A insurreição foi liderada por um ex-comandante do Exército, que foi afastado e preso após ameaçar o ex-presidente Evo Morales, ex-aliado de Arce. Luis Arce, presidente da Bolívia, nomeia novos chefes das Forças Armadas após uma tentativa fracassada de golpe, em 26 de junho de 2024 Josue Cortez/Reuters O presidente da Bolívia, Luis Arce, enfrenta sua pior crise após a tentativa fracassada de golpe que causa tensão no país, abalado pela falta de dólares e pela escassez de combustíveis, aumentou ainda mais. Arce, de 60 anos e no poder desde 2020, foi cercado nesta quarta-feira (26) por soldados com tanques que tentavam invadir o Palácio Quemado, antiga sede presidencial e símbolo do Executivo boliviano. LEIA TAMBÉM Quem é o general responsabilizado pela tentativa de golpe A rebelião militar ocorreu num cenário de turbulência na economia, devido à escassez de dólares, que afeta as importações, e de combustíveis, que irrita os sindicatos do transporte de cargas. “Nós, bolivianos, precisamos trabalhar para fazer o país avançar e não nos envolvermos em revoltas que prejudiquem a imagem da democracia boliviana internacionalmente e gerem incertezas desnecessárias”, escreveu Arce nas redes sociais. Como pano de fundo está também a disputa entre Arce e o seu mentor político, o ex-presidente Evo Morales, pela candidatura às próximas eleições gerais de 2025, que definirão um novo mandato presidencial de cinco anos. Presidente da Bolívia discute com comandante do Exército acusado de tentativa de golpe Antes de assumir a presidência do país, Arce tornou-se ministro da Economia e Finanças durante o governo de Evo Morales, com quem mantinha relações amistosas. Como ministro, conseguiu não só reduzir a inflação e experimentar um boom económico, mas também reduzir significativamente a pobreza. O político era considerado “aluno” do ex-presidente boliviano, mas a aliança entre eles foi rompida por causa das eleições presidenciais de 2025. Morales será o candidato do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do qual Arce era membro antes de ser expulso. O general golpista Zúñiga entrou na disputa política depois de expressar, na segunda-feira, sua veemente oposição ao eventual retorno ao poder de Morales, que compete com Arce pela liderança do MAS. Em entrevista a um canal de televisão, afirmou que Morales seria detido se insistisse em concorrer à presidência no próximo ano. O movimento golpista culminou, na quarta-feira, com tanques nas ruas e com Zúñiga à porta do palácio presidencial. Um dos veículos tentou arrombar a porta do prédio. Luis Arce e Evo Morales em reunião em Buenos Aires, em 7 de fevereiro de 2020 Agustin Marcarian/Reuters Tropas rebeldes posicionaram-se em frente à sede do governo, no centro de La Paz, antes de se retirarem. Zúñiga também abandonou o local e foi detido. O general foi levado a uma delegacia, ao lado do comandante-geral da Marinha da Bolívia, vice-almirante Juan Arnez Salvador. Os dois foram acusados pelo Ministério Público de crimes de terrorismo e insurreição armada. Após várias horas, a situação acalmou-se com os soldados a regressarem aos seus quartéis e os dois comandantes militares a serem detidos. Nas últimas horas, o Palácio do Governo divulgou o áudio de uma conversa entre Arce e Zúñiga à entrada do palácio presidencial, ambos rodeados de soldados. Arce repreende o general: “Eu sou seu capitão, volte atrás em suas ordens e leve todos os policiais militares para o seu quartel. Retire todas essas forças agora mesmo, general. É uma ordem geral, não vai me ouvir?” Então, Zúñiga simplesmente respondeu com um sonoro “não”. Arce divulgou durante a noite uma mensagem na rede social X: “Defenderemos a democracia e a vontade do povo boliviano, custe o que custar”. Agradeceu aos países que “condenaram veementemente e se manifestaram a favor da democracia boliviana, diante da tentativa de golpe de estado contra nosso governo”. Juan José Zúñiga é apresentado após prisão por tentativa de golpe de Estado, na Bolívia Juan Karita/AP O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou “qualquer forma de golpe de Estado” na Bolívia na rede social X. O presidente venezuelano Nicolás Maduro também criticou a tentativa de golpe. Acusação do general Pouco antes de ser levado a uma delegacia, Zúñiga alegou que o movimento havia sido acertado no domingo passado com o presidente Arce, que havia proposto “preparar algo para aumentar sua popularidade”, sem revelar detalhes. “É absolutamente falso e são coisas que considero inconcebíveis”, respondeu horas depois a ministra da Presidência, María Nela Prada, braço direito de Arce.
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