Com influências italianas, portuguesas e até jesuítas, os relógios instalados nas igrejas de São Luís ajudam a contar mais sobre a história da capital que comemora 412 anos. Relógios de igreja e influência cultural estrangeira no cotidiano da capital O Grupo Mirante São Luís, que comemora 412 anos neste domingo (8), tem uma história rica que pode ser contada a partir de inúmeros elementos presentes no cotidiano da cidade, em alguns casos , que passam despercebidas e são vistas como meras figuras decorativas. E um desses elementos são os relógios instalados nas igrejas de toda a capital maranhense. A instalação de relógios, realizada desde o século XVIII, tem grande influência das correntes religiosas e, principalmente, dos descendentes europeus. Uma tradição que nasceu nas potências do mundo neste período, como a Inglaterra, por exemplo, e que ganhou outros países após a consolidação do processo de colonização americana. Da igreja da Sé, passando por São Pantaleão até chegar à Igreja de São João, os registros da presença de relógios marcam uma São Luís que, no fundo, tem saudades daqueles tempos em que não existiam acessórios modernos para indicar as horas. O g1 resumiu a chegada de alguns desses artefatos à capital maranhense. Veja mais abaixo. O toque holandês no relógio de São Pantaleão O acessório de um dos mais tradicionais templos religiosos – a Igreja de São Pantaleão, localizada na rua que leva o mesmo nome, no Centro de São Luís – chegou ao território ludovicense em janeiro de 1952. Segundo apurou o jornal “O Combate”, que na época publicou sobre a chegada do artefato, o relógio era fabricado na Holanda, pela marca Eysbonts, tinha 1,2 metros de diâmetro, além de dois mostradores com dispositivos e um motor para dar corda em um automático. Estima-se que o peso fosse de 775 kg, o que levanta dúvidas sobre a forma como o equipamento foi transportado até ao topo do templo religioso. A instalação do relógio – além de dar continuidade a uma tradição de instalação de equipamentos de referência horária em edifícios religiosos – também beneficiaria os moradores próximos, tendo em vista que os bairros Madre Deus, Goiabal, Lira, Belira, Codozinho e Macaúba poderiam ver as horas, já que “ podia ser visto de longe”. Para ser instalado, ainda em 1949, o padre Zwarthoed teve a ideia de mostrar ao senador maranhense Vitorino Freire a ideia de ter um relógio na torre da igreja de São Pantaleão. Igreja de São Pantaleão em São Luís (MA) Grupo Mirante Segundo a Arquidiocese de São Luís, o senador – ainda em 1950 – enviou um telegrama à paróquia responsável informando que havia adquirido uma doação para a compra do relógio. Com base nisso, foi feita uma busca pela melhor empresa fabricante para fazer o pedido. Segundo o pesquisador Paulo Victor Silva, integrante da Arquidiocese de São Luís, no dia da entrega do relógio, uma grande multidão esperava em frente à igreja. Sob aplausos, o vigário de uma das janelas do prédio tomou a palavra e disse que a ideia de instalar um relógio na igreja era antiga. Além do senador Vitorino Freire, responsável pela aquisição do relógio, também foram recebidos agradecimentos do engenheiro Almir Marques, então mestre-de-obras da Prefeitura da capital, Sr. João Marques, e de Joaquim Aguiar, que ajudou na a montagem do relógio. Segundo a freguesia, para regular o pêndulo (cuja mecânica é necessária à mecânica do relógio), o peso cilíndrico do acessório é forçado para a esquerda ou para a direita. A cada dez meses era necessária a lubrificação da engrenagem do aparelho. O relógio do século XVIII: os ponteiros da Igreja da Sé Uma das construções mais antigas de São Luís, a Catedral Metropolitana de São Luís, conhecida como Igreja da Sé, também tem sua história relacionada aos relógios da cidade. Segundo a obra “Monumentos Históricos do Maranhão”, na inauguração da então “nova” igreja, datada de 1690, o prédio ainda não possuía torres. Quase meio século depois, ou seja, em 1737, com autorização da Câmara Municipal, foi construída a torre direita juntamente com a instalação de um relógio. O acessório, nesta ocasião, foi oferecido pelos próprios jesuítas. No livro “A Nação”, datado do século XVIII, o periódico aparentemente menciona que “em 17 de setembro de 1737, a Câmara impôs a obrigatoriedade de relógio”. A configuração com relógio em apenas uma das torres manteve-se desde a segunda metade do século XVIII até ao início do século XX. A coleção de Gaudêncio Cunha, datada de 1908, confirma que até então a Catedral registava apenas um relógio. Com base nos arquivos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1922, após confirmação do atual pároco da Catedral, Padre Roney Carvalho, a construção passou por reforma. Catedral Metropolitana de São Luís (Igreja da Sé) em São Luís (MA) Luís Guilherme/Flickr/Reprodução Pela inspiração neoclássica, que valoriza a simetria, a torre da esquerda agora está alinhada com a da direita. A simetria deve ser tal que um “ornamento”, ou um relógio que só apareça na fachada, seja feito na torre esquerda. “A nova torre, com o relógio na fachada, foi apenas para cumprir as medidas neoclássicas”, disse o pároco. No interior do relógio da torre direita é possível observar uma engrenagem em melhor estado de conservação, comparativamente à de São Pantaleão (embora esta última seja mais recente). Na engrenagem, que pode ser acessada a partir de vários degraus internos, é possível ver um relógio em miniatura unido a diversas peças cujos eixos estão conectados aos ponteiros maiores. O relógio deixou de funcionar há alguns anos e, segundo a freguesia, existe ainda um projeto que não foi concluído para recuperar o acessório e abri-lo à visitação turística. Relógios nas fachadas das lojas Em 1956, um registro no jornal “O Combate” mostra a inauguração da “Real Joias”, loja que se apresentava na época como detentora de um estoque de joias, relógios, pratarias e outros itens. As instalações, instaladas na Rua Oswaldo Cruz, no Centro, foram descritas como “modernas” e a fachada do projeto é anunciada com um relógio tradicional em sua estrutura. Um sinal claro de que, neste período, a população ainda estava habituada a observar os relógios e a expô-los ao público para se basearem no tempo. Ladeira da Estrela Na encosta que separa a Rua da Estrela da Rua de Nazaré, perto da Praça Pedro II, no centro de São Luís, existe um relógio bonito, mas danificado. O artefato instalado no anexo do prédio do Tribunal de Justiça do Maranhão foi referência histórica para São Luís. A relíquia – durante mais de sessenta anos – foi referência na época certa para o povo ludovicense. O acessório teria sido importado da cidade de Croyton, na região da Grande Londres, capital inglesa, e fabricado em 1911 pela empresa Gillett & Johnston. Onde está o relógio? Registro antigo da fachada com relógio da Igreja de São João em São Luís (MA) Grupo Mirante Registro fotográfico datado do início do século XX de Gaudêncio Cunha encontra-se na obra “São Luís do Maranhão: corpo e alma” de Maria de Lourdes Lacroix, mostra um edifício neoclássico na Rua da Paz – a Igreja de São João – ainda com a presença de um relógio numa das torres. Registros catalogados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que o templo sofreu novas intervenções ao longo dos anos, sendo reconstruído em 1812. Em 1867, foi pavimentada a praça de mesmo nome, localizada em frente à igreja. A atual fachada neoclássica da Igreja de São João apresenta dois pares de pilastras com capitéis em estilo coríntio estilizado. O g1 não conseguiu localizar onde o acessório estaria atualmente. Atualmente, apenas o vão onde estava o relógio pode ser visto. Atualmente, existe apenas a torre onde ficava o relógio da Igreja de São João, em São Luís (MA) Adriano Soares/Grupo Mirante
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