Marcas cariocas conquistaram prêmios e status. Tem muitos nomes. Nos dicionários, o número de apelidos para as bebidas mais brasileiras ultrapassa a marca dos quatrocentos. Uma delas é “Água de Setembro”, uma alusão ao mês em que Dona Luísa de Gusmão (1613-1666), então regente da Coroa Portuguesa, autorizou a produção e venda de cachaça no Brasil colonial — não por acaso meses depois de um rebelião que eclodiu no Rio de Janeiro e ficou para a história como Revolta da Cachaça (1660-1661). Passados mais de três séculos e meio, a relação do Estado com a boa e velha aguardente não passa de amor. A alta produção e o compromisso com a qualidade garantem ao Rio lugar de destaque nas gôndolas dos amantes de purinhas. O Anuário da Cachaça 2024, com a compilação dos dados da produção nacional do ano passado, mostra que, em 37 cidades gaúchas, o equivalente a pouco mais de 40% do total, há pelo menos um produtor da bebida. No total, são 65 alambiques que, juntos, fabricam 537 cachaças com um total de 716 rótulos devidamente registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o que torna o estado o terceiro do país em número de marcas e produtos, atrás apenas Minas Gerais e São Paulo. Rio: rótulos premiados O Estado do Rio não está entre os maiores produtores do país em litros ou faturamento, mas se sai bem de Sul a Norte de seu território — inclusive colecionando prêmios em concursos nacionais e internacionais de destilados — quando chega às chamadas cachaças de alto padrão. — O Rio domina terroirs muito diferentes para a produção de cachaças. Começa no sul do estado, com Paraty, na orla marítima, que está no segmento premium do setor, depois o Vale do Café e a Região Serrana com pequenos produtores muito famosos, especializados em produtos de qualidade. E temos uma região tradicional que é o Norte-Noroeste do estado, que tem produtores muito tradicionais e especiais — explica Vicente Bastos, vice-presidente do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), entidade que representa o setor. Paraty bate recorde Este ano foi especialmente marcante para a produção no Rio de Janeiro. No final de janeiro, a bebida produzida em Paraty, na Costa Verde — cidade cujo nome está entre os 400 apelidos da bebida — recebeu o registro de Denominação de Origem (DO) do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o primeiro concedido para um destilado produzido no país. Entre os aspectos levados em consideração na avaliação do registro estão fatores naturais que vão desde o relevo da Serra do Mar, passando pela quantidade e frequência das chuvas, até as temperaturas relativamente elevadas, que contribuem para que a cana-de-açúcar colhida na região tenha características únicas. e características ideais para a produção de aguardente. Além do carácter privilegiado da própria Costa Verde, o DO tem em conta a componente humana na produção, observando o conhecimento empírico que sobrevive há séculos partilhado por gerações de produtores, a gestão manual do cultivo e corte da cana-de-açúcar, a utilização de fertilizantes orgânicos e a forma lenta e gradual de realizar a destilação, seguindo práticas ancestrais e obedecendo a uma regra de ouro: descartar a primeira e a última parte do líquido destilado — chamadas de “cabeça” e “cauda” no jargão da atividade —, concentrando produção na porção mais nobre e pura, o chamado “coração” da cachaça, “contribuindo para a agradável sensação alcoólica da aguardente de cana, favorecendo sua qualidade final”, conforme consta na conclusão do estudo técnico para concessão do registro . O texto destaca ainda as “características sensoriais da bebida paraty”. — A conquista é positiva para o Brasil, para o Rio e para as cachaças de qualidade. Elevar a fasquia para todos e comunicar aos consumidores que o país atingiu este patamar — afirma Vicente Bastos. ‘A cachaça corre nas veias’ Em Paraty, existem atualmente seis produtores de cachaça que, juntos, são responsáveis por colocar no mercado 87 rótulos da bebida, o que faz da cidade a quinta com mais marcas vendidas no país. Entre eles está o Coqueiro, produzido desde 1803 pela mesma família. — Sou a quinta geração no ramo. Costumo dizer que a cachaça corre em nossas veias. Temos trabalhado muito na profissionalização. Somos artesanais, mas com cada vez mais profissionalismo. Temos rastreabilidade, o consumidor sabe de onde vem o produto, como é feito — afirma o produtor Marcelo Mello. Presidente da Associação dos Produtores de Cachaça do estado (Apacerj), Katia Alves Espírito Santo acredita que este é um dos maiores gargalos do setor. — Nosso maior problema é a ilegalidade, é uma coisa assustadora em todos os estados do Brasil. No Rio, ouso dizer que, se tivermos 65 produtores legalizados, temos mais que o dobro de produtores não cadastrados, o que é até um problema de saúde, pois ninguém tem controle sobre a qualidade desses produtos — diz Kátia, que tem tem se dedicado a dar continuidade ao trabalho do pai, produzindo a premiada e igualmente centenária Cachaça da Quinta, na cidade de Carmo, região serrana. Bem mais nova no mercado, a Paratiana — cujo nome não deixa dúvidas sobre sua origem — iniciou suas atividades em 1999. Atualmente investe no envelhecimento da bebida em barris feitos de madeiras nativas brasileiras como jequitibá, amburana e grápia, entre outras. Com produtos que variam de R$ 65 a R$ 700, a marca arrecada prêmios. Legalidade preservada Tanto Coqueiro quanto Paratiana vendem a maior parte de sua produção – 70% a 80% – na própria cidade, um conhecido e popular destino turístico. Ambos se ressentem da concorrência de fotos ilegais. — Existe uma confusão comum entre produtos artesanais e produtos de quintal, que são feitos sem controle e podem até fazer mal à saúde. Somos artesanais sim, mas com total controle de todos os processos. É importante que o consumidor esteja atento a isso — reforça Carlos José Gama Miranda, o Casé, dono da Paratiana. Também localizada na região Sul do estado, mas muito distante do mar, Resende não tem a mesma tradição de Paraty na fabricação de aguardente, mas nos anos 2000 ganhou uma marca que começa a despontar no mercado: Reserva do Nosco , uma das cachaças, assim como o Coqueiro, presente na edição deste ano do Rio Gastronomia. A produção ainda é relativamente pequena – três a quatro mil litros por safra – e administrada pessoalmente por Marcelo Nordskog, que deixou o mercado financeiro para morar na centenária fazenda da família. O nome da cachaça é uma homenagem ao avô norueguês, cujo sobrenome Nordskog virou “Nosco” em terras brasileiras. — A cana é produzida por mim. Também não compro fermento de cana do exterior, seria mais prático e barato, mas prefiro ter o controle — afirma. Outra cidade pouco conhecida pela produção de cachaça no estado apareceu como novidade no Anuário publicado pelo ministério. Duas Barras, na Região Serrana, aparece como a quinta cidade do país com mais marcas registradas do produto: 70. Destas, 53 pertencem à cachaçaria D’Altim. Criada em plena pandemia, a marca já arrecadou uma dezena de prémios em concursos nacionais.
taxa de juro para empréstimo consignado
emprestimo simulador online
itaú empréstimo consignado
refinanciamento para representante legal
empréstimo consignado taxas
emprestimo loas bradesco
zap pan
0