Mesmo os atletas que se destacam em suas modalidades esportivas precisam mostrar outros atributos para atrair patrocínios e dar continuidade à carreira. Pensando aqui… Se um dia criarem as Redes Sociais Realizando Jogos Olímpicos, o Brasil será uma potência. Já faz algum tempo que ouvimos artistas lamentando em entrevistas o espaço que perderam para personalidades que são fenômenos na internet. O ator tem formação, talento, mas falta seguidores e por isso não é escalado para determinado trabalho. Acompanhando a cobertura das disputas em Paris, percebi que para os atletas a situação pode ser semelhante. Coletar números em seus perfis os torna mais relevantes, atraindo marcas e patrocinadores, o que é essencial para a continuidade de sua carreira. Tanto é que, durante as transmissões, colegas jornalistas e comentaristas convocam os telespectadores a acompanharem os representantes brasileiros. É como se o lema “diga-me quantos seguidores você tem e eu te direi se você vale ouro, prata ou bronze” prevalecesse. Bia Souza e o Exército Brasileiro: medalhista de ouro é apaixonada pelas Forças Armadas Rebeca Andrade e seu treinador: uma história de parceria e respeito Sei que faz parte do jogo. Mesmo antes do desempenho virtual ser um critério para medir a importância de alguém, era natural que os atletas precisassem mostrar sua relevância para atrair apoio. Mas o essencial para isso bastava: ser bom no que fazia. Na atual realidade de curtidas e engajamento, me parece que não basta ser destaque no esporte que pratica. Sua imagem precisa ser atrativa em outros aspectos: tem sorriso, um pouco de dança, carisma… E quem é mais tímido e introspectivo, como fica? Eles tentam sobreviver na repescagem, ficando com bolsa. Pense se essa obrigação de brilhar na vitrine da internet não é semelhante para a maioria de nós, que diariamente trabalhamos nas planícies da vida. Nas mais diversas áreas de atuação os profissionais podem ser muito bons, mas hoje em dia precisam ter outras preocupações além de se dedicarem ao seu trabalho, ou não serão vistos, não serão notados. De que adianta fazer um bolo delicioso se você não sabe vendê-lo? Todo mundo, hoje em dia, precisa ser meio comerciante, meio anunciante. E neste livre comércio de pessoas, a concorrência é feroz. Às vezes você se encontra no meio dessa corrida sem fim e fica desmotivado, desanimado. O outro faz um bolo pior que o seu, mas embala e divulga bem o produto. Pegue a fatia. Ele é psicólogo, médico, advogado… Todo mundo precisa ter um perfil e encontrar sua forma de chamar a atenção. Porque, inacreditavelmente, as pessoas confiam nos dermatologistas pelo quanto eles se tornam virais, não pela experiência e currículo. E isso te dá desarmonia facial! Surfar nos debates que inflamam a opinião pública também pode gerar bons rendimentos aos profissionais do direito, ainda que esta seja uma profissão que, em essência, exige alguma discrição. Alguns se tornaram garotos-propaganda de banners de mídia. Imagine viver uma atividade em que a disciplina e o foco são essenciais, como acontece no esporte de ponta. São segundos, detalhes que separam um primeiro de um segundo ou terceiro colocado. A única preocupação de um atleta que conseguiu chegar a Paris deve ser equilibrar-se na trave, na bicicleta, desferir um golpe certeiro, conseguindo seu melhor desempenho. O sucesso seria uma consequência natural de suas habilidades, e não medido por outros atributos exibidos no Instagram ou TikTok. Ainda assim, mesmo para a bela e competente Lorrane dos Santos, por exemplo, que conquistou o bronze ao lado dos colegas de ginástica, as pessoas se movimentaram para ajudá-la a chegar a 1 milhão de seguidores. Para manter o seu lugar ao sol, não deveria bastar treinar e mostrar resultados? Ninguém, em qualquer área, é tão bom e interessante que consiga ficar bem colocado o tempo todo nesta maratona web. E se aparecer demais sem ter suado, vale desconfiar. Estas são pessoas que seriam reprovadas no primeiro teste antidoping.
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