A vitória de Nicolás Maduro foi proclamada nesta segunda-feira (29) pelo Conselho Nacional Eleitoral. A oposição denuncia fraude nos resultados e adulteração dos números nas urnas. Aliado histórico de Maduro, Lula exige a publicação de ata para reconhecer o resultado. Maduro fala após o Conselho Nacional Eleitoral proclamar sua vitória Leonardo Fernandez Viloria/Reuters A Venezuela entrou em uma nova crise depois que o presidente Nicolás Maduro foi declarado reeleito pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão presidido por um aliado seu – antes da contagem concluída e sem que todas as cédulas tivessem sido publicadas. AO VIVO: Acompanhe a crise na Venezuela em tempo real Clique aqui para acompanhar o canal de notícias internacionais g1 no WhatsApp O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela proclamou nesta segunda-feira (29) a vitória do presidente Nicolás Maduro com 51,2% dos votos votos, contra 44,2% do adversário Edmundo González. Com base em contagens paralelas, o candidato da oposição Edmundo González argumenta que ganhou as eleições. O site da CNE está fora do ar desde domingo (28); segundo o Ministério Público, ligado ao governo Maduro, houve um ataque hacker por ordem da oposição. Dezenas de países pediram a divulgação dos detalhes da investigação — o que ainda não ocorreu. Aliado histórico de Maduro, Lula condicionou o reconhecimento do resultado à apresentação da ata. Entretanto, o seu partido, o PT, reconheceu a contestada vitória de Maduro. Enquanto isso, Maduro foi proclamado presidente para um terceiro mandato, anunciou que enviará as Forças Armadas para todo o país e convocou apoiadores a saírem às ruas a partir desta quarta-feira (31). É uma resposta a uma série de protestos que tomou conta da Venezuela nesta terça-feira (30). Pelo menos 700 pessoas foram detidas, segundo o MP, e 11 morreram, segundo uma ONG venezuelana. Segundo a oposição, os números das urnas foram adulterados e o resultado fraudado. A Organização dos Estados Americanos (OEA) também não reconheceu a vitória chavista. Entenda a crise venezuelana abaixo Neste relatório, o g1 explica: Compromisso com eleições justas Oposição bloqueada Maduro eleito e proclamado antes da divulgação dos resultados totais Contestação da oposição Reação internacional Protestos em todo o país Maduro fala em golpe de Estado e ameaça de prisão Apelo do governo Lula por minutos, mas PT apoia Maduro Compromisso com eleições justas Sob pressão da comunidade internacional, em outubro de 2023, o governo Maduro e a oposição política assinaram o Acordo de Barbados — que estabelecia garantias para que as eleições presidenciais fossem justas e democráticas. O encontro aconteceu em Barbados, no Caribe. O Brasil, por meio do ex-ministro Celso Amorim, desempenhou papel central nas negociações. O acordo estabeleceu a autorização de monitoramento do voto por observadores internacionais para garantir transparência no processo eleitoral. Cada lado, incluindo a oposição, também poderia escolher o seu candidato. Após a assinatura do acordo, os Estados Unidos aliviaram temporariamente as sanções ao petróleo, gás e ouro venezuelanos. Mas o acordo durou pouco tempo. Oposição barrou Maria Corina Machado e Edmundo González Leonardo Fernandez Viloria/Reuters Durante a corrida eleitoral, dois candidatos da oposição foram impedidos de concorrer ao governo, aumentando a já turbulenta tensão política na Venezuela. Favorita para derrotar Maduro, Maria Corina Machado foi inabilitada para exercer cargos públicos por 15 anos, em decisão de janeiro deste ano do Supremo Tribunal de Justiça, indicada por Maduro. Em março, a professora Corina Yoris — segunda escolha da oposição na corrida eleitoral — não conseguiu concluir o registo da sua candidatura a presidente no sistema online do Conselho Nacional Eleitoral, após enfrentar um alegado defeito na plataforma. Diante dos bloqueios, o diplomata Edmundo González foi nomeado candidato presidencial de última hora pela coalizão Plataforma Unitária para disputar as eleições contra Maduro. Como funciona a eleição na Venezuela Maduro eleito e proclamado antes da divulgação do resultado total No domingo (28), os venezuelanos foram às urnas para votar nas eleições presidenciais marcadas por forte tensão política, longas filas e o fechamento da fronteira com o Brasil no dia véspera da disputa. A expectativa era que o resultado saísse no mesmo dia, o que não aconteceu. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu o atraso na publicação dos resultados a um alegado ataque hacker. O órgão responsável pelas eleições no país é presidido por Elvis Amoroso, aliado de Maduro. Eleitores conferem seus nomes em uma lista do lado de fora de um posto de votação durante a eleição presidencial em Caracas, na Venezuela, em 28 de julho de 2024 Reuters/Maxwell Briceno Na madrugada desta segunda-feira (29), o órgão declarou que, com 80% dos votos contados, Nicolás Maduro foi o vencedor das eleições presidenciais de 2024 – sendo eleito para o cargo pela terceira vez. Segundo a CNE, Maduro obteve 51,2% dos votos, e o principal candidato da oposição, Edmundo González, 44%. O resultado indica uma diferença de 704 mil votos entre os dois candidatos. Até à data, os dados de contagem total e os registos eleitorais não foram divulgados. Ele foi proclamado vencedor na segunda-feira. Contestação da oposição A oposição, que tem denunciado irregularidades, contestou os números divulgados pela CNE e informou ter calculado que Edmundo González teve 70% dos votos, e Maduro, 30%. Os resultados de duas pesquisas de saída divulgadas pela agência Reuters indicaram a vitória de Gonzáles com grande vantagem. A líder da oposição Maria Corina Machado afirmou que foi González quem ganhou as eleições. Ela disse que tem provas disso. Corina Machado diz que a participação na votação foi “histórica” e que quatro auditores independentes mostram que González foi o vencedor das eleições em todos os estados. O presidente Nicolás Maduro se dirige a apoiadores reunidos em frente ao palácio presidencial em Miraflores depois que as autoridades eleitorais o declararam vencedor das eleições presidenciais da Venezuela AP Photo/Fernando Vergara Reação internacional Após a divulgação dos resultados várias autoridades internacionais questionaram o anúncio da vitória de Maduro e apelou a uma contagem transparente dos votos, tal como fizeram o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o vice-presidente da União Europeia, Josep Borrell Fontelles (ver lista). Por outro lado, presidentes de países como Rússia, Nicarágua e Cuba felicitaram Maduro pela sua vitória. Veja quem falou a favor do atual presidente. O governo brasileiro está cauteloso em relação aos resultados das eleições. Numa nota do Ministério das Relações Exteriores, o governo brasileiro congratulou-se com o “caráter pacífico do dia eleitoral”, mas disse que aguarda a publicação de “dados desagregados” pela CNE, um “passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do o resultado da eleição “. Manifestantes queimam faixa durante protesto em Caracas, em 30 de julho de 2024, um dia após a eleição presidencial na Venezuela Yuri Cortez/AFP Protestos em todo o país Desde segunda-feira (29), multidões saíram às ruas do país para protestar contra a reeleição de Maduro e, em diversas áreas, as manifestações foram dispersadas pelas forças de segurança. Pelo menos 749 pessoas foram detidas durante os protestos até a tarde desta terça-feira (30) devido a “atos violentos e vandalismo”, disse o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab. Segundo ONGs que atuam no país, onze pessoas também morreram e 44 ficaram feridas nos protestos. Segundo a ONG Inquérito Hospitalar Nacional, que monitoriza a crise hospitalar e dos centros de saúde na Venezuela, uma das mortes ocorreu em Caracas, outras duas em Aragua, no centro do país, e uma quarta na região de Yaracuy, no noroeste. Manifestantes carregam panelas em protesto contra Nicolás Maduro na cidade de Valência, Venezuela, em 29 de julho de 2024 Jacinto Oliveros/AP Photo Maduro fala sobre golpe de Estado e ameaça com prisões O presidente venezuelano disse que seus oponentes, Edmundo González e María Corina Machado, são responsáveis pela violência, mortes e destruição ocorridas no país desde as eleições de domingo (28). “A justiça chegará”, disse ele durante reunião conjunta do Conselho de Estado nesta terça-feira (30). Maduro anunciou que os manifestantes detidos serão sujeitos a penas de prisão até 30 anos: “passarão, pelo menos, 15 a 30 anos de prisão e desta vez não haverá perdão”. O líder venezuelano afirmou ainda que o país sofre uma tentativa de desestabilização. O Presidente disse ainda que a oposição, apoiada pela comunidade internacional, “pretende tomar o poder de forma violenta” e alegou que vários gabinetes do Conselho Nacional Eleitoral foram alvos de grupos criminosos, que chamou de terroristas. O Ministério Público venezuelano declarou que monitora as manifestações que ocorrem no país contra Maduro e que pode prender qualquer pessoa que pratique atos de violência em protestos que neguem o resultado das eleições. Manifestantes enfrentam forças de segurança enquanto protestam em Puerto La Cruz, na Venezuela, após órgão eleitoral declarar vitória de Maduro REUTERS/Samir Aponte Governo Lula pede ata, mas PT apoia Maduro O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou pela primeira vez nesta terça-feira -dia (30) sobre o impasse nas eleições presidenciais na Venezuela, realizadas no domingo (28). Lula disse que, para “resolver a briga”, as autoridades locais deverão apresentar os registros das votações. O governo brasileiro seguiu um caminho mais cauteloso. Não reconheceu a vitória do líder chavista nem endossou a fraude denunciada por outros líderes internacionais. O presidente afirmou ainda que não vê nada de “anormal”, “grave” ou “assustador” no processo eleitoral venezuelano. “Houve eleição, teve uma pessoa que disse que tinha 51%, teve uma pessoa que disse que tinha 40%. Um concorda, o outro não. Vai na Justiça e a Justiça faz”, disse Lula. . Enquanto isso, a Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores reconheceu a vitória de Maduro. Na nota divulgada nesta segunda-feira, o partido afirma que o processo eleitoral foi uma “jornada pacífica, democrática e soberana”. Afirma ainda ter “certeza” de que o Conselho Nacional Eleitoral – centro da polémica em curso, acusado de ocultar dados que deveriam ser públicos – “tratará com respeito todos os recursos que receber”. ‘Como você resolve essa briga? Apresente a ata’, diz Lula sobre eleição na Venezuela sob suspeita
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