O apagão cibernético da última sexta-feira (19) pegou o mundo de surpresa e gerou pânico generalizado, mas não foi a primeira vez que um evento desse porte atingiu o mundo. Em 2017, a World Wide Web foi infectada pelo ransomware WannaCry, que interrompeu serviços de telecomunicações, transportes, governamentais, bancários e universitários em todo o mundo.
Em 12 de maio de 2017, o WannaCry se espalhou por mais de 200 mil computadores em 150 países. O malware tinha como alvo usuários e instituições, incluindo FedEx, Honda, Nissan e o Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido.
Ó WannaCry aproveitou vulnerabilidades no protocolo SMB (Server Message Block) no Windows para se espalhar dentro de uma rede. Com os privilégios do protocolo, o malware foi capaz de executar código arbitrário, espalhar-se por mais computadores e impactar mais serviços.
O erro gerado pela atualização do CrowdStrike Falcon interrompeu inúmeros serviços ao redor do mundo.Fonte: GettyImages
No entanto, o a disrupção global é a única semelhança entre o caso de 2017 e o apagão de 2024. No caso da interrupção do CrowdStrike, o problema não só não foi causado por um ataque cibernético ou malware, mas também teve uma proporção muito maioratingindo cerca de 8,5 milhões de computadores — todos com Windows.
Problemas diferentes, mesma consequência
Embora o WannaCry usasse uma vulnerabilidade na rede mundial de computadores para infectar o máximo de máquinas possível, o problema da CrowdStrike era o domínio da empresa sobre o mercado de segurança. Na recente explosão, o apagão foi gerado pela distribuição de uma atualização problemática para o sistema Falconum tipo de antivírus corporativo integrado ao Azure da Microsoft.
“São precisamente aplicações como o CrowdStrike Falcon que tentam proteger os computadores deste tipo de malware [WannaCry]”, explicou o diretor de tecnologia da Sage Networks, Thiago Ayub, ao TecMundo. “É um caso em que o efeito colateral do remédio matou o paciente em vez de prevenir a doença”, comparou.
Em 2017, a crise internacional foi gerada pelo malware ransomware WannaCry.Fonte: GettyImages
A A principal função do Falcon é impedir que malware se espalhe dentro de uma rede corporativa. O sistema monitora e, caso seja detectada uma ameaça, interrompe a comunicação com aquele terminal, isolando o dispositivo dos demais computadores.
Embora o golpe não tenha vindo de fora, mas sim de dentro dos mecanismos de segurança, as consequências do colapso foram graves. “Nas guerras, existe a expressão ‘fogo amigo’ para designar tiros vindos de aliados, e não do inimigo. Apesar da amargura que as equipes de TI sentiram quando tiveram um colapso generalizado causado por um produto caro que deveria protegê-los justamente disso. tipo de incidente, a consequência prática é a mesma: a interrupção da indisponibilidade dos sistemas”, disse Ayub.
Segundo CrowdStrike, um bug na etapa de controle de qualidade da atualização fez com que a compilação fosse entregue em massa para sistemas embarcados com Falcon. Dentro do pacote, havia uma referência a um endereço de memória não utilizado fora dos limites do programa, gerando o que é conhecido na computação como “Exceção”.
O erro de sistema do Falcon foi causado pela ocorrência de uma exceção que não foi tratada adequadamente.Fonte: GettyImages
Como consequência do erro, o O Windows não permitiu que o computador fosse reiniciado. Assim, diversos dispositivos de serviços como bancos, servidores e aeroportos ficaram inoperantes ao mesmo tempo.
WannaCry era malware, CrowdStrike era um monopólio
Ao contrário do WannaCry, a solução não foi alcançada através de engenharia reversa, mas sim do isolamento do problema e da implementação agressiva de uma solução urgente. Dada a extensão do problema, os seus efeitos duraram dias, e a Microsoft e a CrowdStrike tiveram que cooperar com os seus clientes para restaurar os serviços.
Embora os motivos sejam diferentes, a disseminação massiva do problema reforça: a internet conecta praticamente o mundo inteiro. Os problemas gerados pela atualização corrupta do CrowdStrike geraram problemas em inúmeros sistemas integrados através do Azure, enquanto a interconexão entre dispositivos permitiu que o WannaCry se espalhasse e fizesse ainda mais vítimas.
Embora o WannaCry tenha sido um ataque cibernético, a crise do CrowdStrike foi uma consequência do mercado.Fonte: GettyImages
No caso do CrowdStrike, a solução não é a tecnologia, mas para o mercado. “Para praticamente tudo existem alternativas de redundância, um plano B, mas os compradores (sejam empresas ou utilizadores) não tendem a prestar atenção a isto ou não estão dispostos a pagar pelo investimento”, disse Ayub.
Ter uma alternativa disponível para emergências no mundo corporativo é tão importante quanto para o consumidor final. Ayub lembra que os apagões de serviços acontecem de tempos em tempos, como já ocorreu nas plataformas da Meta, mas que as pessoas e organizações não tomaram medidas para se protegerem de recorrências.
É importante considerar soluções alternativas
De acordo com Ayub, É importante desenvolver planos alternativos para operar durante a indisponibilidade dos sistemas digital. Na entrevista, ele menciona que algumas companhias aéreas da Índia embarcaram passageiros usando papel e caneta — uma solução básica, mas eficiente para superar emergências como a avaria do CrowdStrike Falcon.
No Chrome, o sistema não recebe atualizações em sua partição crítica, mas sim em sua versão “espelhada”.Fonte: GettyImages
Ele reforça que o departamento de TI precisa ser considerado parte essencial das empresas, sendo incluído nas tomadas de decisões em reuniões estratégicas e considerado um investimento. “Ainda existe uma grande diferença cultural e tecnológica entre as empresas comuns e aquelas que têm a TI como atividade principal”, destacou o executivo.
Uma possibilidade para remediar situações como a crise desta sexta-feira (19) é a redundância estruturada em sistemas como o ChromeOS, sistema de PC do Google. Nele, qualquer atualização é feita em uma instância separada da versão do SO em uso, como uma espécie de espelho.
Caso o sistema não inicialize ao inicializar no estado B, ele retorna automaticamente para a instância A, revertendo assim a compilação problemática e retornando ao funcionamento normal — e esta é uma solução voltada para o consumidor final.
À luz da crise mais recente, é possível que as empresas estejam agora a prestar atenção à implementação de mecanismos de emergência, mas só o tempo dirá se estas soluções serão verdadeiramente integradas.
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