Carnavalesca morre no dia em que se comemora Nanã e Sant’Anna, deixando Rosa Magalhães, no dia de Nanã e Sant’Anna, deixando uma espécie de orfandade nas meninas e meninos de oito a 80 anos que cresceram assistindo suas aulas de carnaval. Poderia, certo? Ela foi a principal contadora de histórias (a maioria delas fora dos livros didáticos tradicionais) baseadas em uma linguagem inventada no Brasil: as escolas de samba. Sim, o desfile na Sapucaí é uma forma maravilhosa de narrarmos, de deixar o coração “quentinho” porque somos brasileiros. Ela soube construir esse sentimento de pertencimento como ninguém. Luto: Morre carnavalesca Rosa Magalhães no Rio; escolas de samba prestam homenagem Filha do jornalista, polígrafo e acadêmico Raimundo Magalhães Júnior – jurado do primeiro concurso de escolas de samba, em 1932 – e da autora de teatro Lúcia Benedetti, desde sua estreia mundial em um hospital de Botafogo, atravessou o túnel em direção ao mar e nunca mais saiu de Copacabana. Mentira: ela descobriu o mundo num passeio de livro e ao lado do paizão, um andarilho que a incentivou a descobrir as melhores histórias. Cresceu no bairro Princesa do Mar, quando ainda respirava poesia e arquitetura art déco, muito antes da explosão demográfica e dos fogos de artifício do réveillon. Passei a infância pedalando pela Praça Cardeal Arcoverde, que na configuração atual tinha um lago, com peixes e tudo. Carnavalista Rosa Magalhães é homenageada: ‘Professora’, ‘Imperatriz do samba’ e ‘campeã’ Uma cicatriz na testa é dessa época, época das primeiras aulas na tradicional escola Sacré-Coeur de Marie. Ainda pequena, já equilibrava um estilo de vida tradicional com doses de vanguarda — equilíbrio (ou conflito interno?) que marcaria a sua vida e a sua obra artística. Ela começou, por exemplo, a dirigir e a fumar aos 14 anos, com a bênção dos pais para tal empreendimento – “moderno” na época. Ela nunca imaginou que, ao cair no galpão do Salgueiro em 1971 (convidada pelo mestre Fernando Pamplona), encontraria sua vocação e eco para tantas preocupações. No improvisado barracão-oficina trabalharam Arlindo Rodrigues e Joãosinho Trinta, entre outros —além de Pamplona. O desembarque ocorreu ali sem que ela sequer soubesse dos detalhes de um grupo. “Ah, você vai desenhar a roupa do porta-bandeira”, decretou Pamplona com sua voz forte, longe de dar explicações detalhadas. A carnavalesca então olhou para o lado e, sem a menor cerimônia, perguntou a uma costureira: “O que faz um porta-bandeira?” O riso foi seguido por ação prática. João Trinta também deu suas ordens: “Está vendo aquele saco de bolinhas de isopor aí? Perfure as bolas! Ela respondeu: “Mas como?” A resposta veio como se fosse cortada para a bola levantada: “Vire-se!” Foi assim — de isopor em isopor, sem medo de investigar e questionar — que ela entendeu o quanto de Brasil há naquele coletivo, sua capacidade de expressar o tempo, o entorno. Um dia, o nosso povo acreditará na força civilizadora única de bater no couro quando um grupo se espalha no asfalto. E Rosa, por fim, será cultuada de forma acurada, sem o persistente pudor dedicado pelos intelectuais a quem lida com a cultura popular: ela foi uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos. *Fábio Fabato é jornalista, escritor e pesquisador de cultura popular.
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