O g1 percorreu de barco o trecho mais afetado, em São Pedro (SP). A paisagem impressiona até mesmo pescadores que trabalham na área há décadas, que relatam impactos no ecossistema local, no turismo e nas famílias que vivem da região de onde vem o rio. Pescadores relatam reflexos da mortandade de peixes na APA Tanquã, em São Pedro Há cinco dias, a beleza proporcionada pelos passeios de barco na Área de Proteção Permanente (APA) Tanquã-Rio Piracicaba, conhecida como minipanantal paulista, também foi invadida pelos maus cheiro, ardor nos olhos e trechos onde o barco tem dificuldade de atravessar devido à quantidade de peixes mortos que cobrem toda a superfície da água. A tragédia ambiental, segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), foi causada pelo lançamento de poluentes por uma usina de açúcar, o que ela nega. O órgão e o Ministério Público investigam o caso. LEIA TAMBÉM: VÍDEO: Imagens aéreas mostram rio coberto de espuma Recuperação de peixes pode levar até 9 anos, diz especialista Rio Piracicaba registra 17 mortes de peixes em 10 anos G1 percorreu de barco o trecho mais afetado, em São Pedro (SP). Todo o Tanquã ocupa uma área equivalente a 14 mil campos de futebol, nas cidades de Anhembi, Botucatu, Dois Córregos, Piracicaba, Santa Maria da Serra e São Pedro. Em um trecho da Chácara Estrela, em São Pedro, o mau cheiro já é perceptível às margens do rio. Bem no ponto de saída dos barcos pesqueiros e guias turísticos, é possível avistar animais mortos que tentavam sobreviver em áreas mais rasas. Os peixes mortos estão concentrados no ponto de saída dos barcos, em um trecho do Tanquã em São Pedro (SP) Rodrigo Pereira/ g1 “O peixe passou por baixo e veio até a beirada para respirar, mas esse peixe que chega na beira não Não volte mais para o meio. Morre na beirada. Se você olhar lá, o corvo está lá em cima, fede”, alerta o pescador Antonio Márcio Caetano, que pesca na região há 25 anos e não tem dúvidas. que é o maior número de mortes que ele já viu. É possível perceber que outras aves têm se alimentado dos peixes mortos ou moribundos. Mas Antonio alerta que o cenário mais impressionante não é visível para quem está às margens do rio. São pontos que só podem ser acessados por barco, principalmente aqueles onde as formações vegetais criam espécies de bolsões, onde vários peixes se enroscam. “Há uma curva no canal pela qual você não pode passar. Não podemos vê-la daqui. Há apenas alguns peixes mortos lá.” Os pescadores Antonio Márcio Caetano e Nivaldo Albino de Siqueira dizem nunca ter visto mortes de peixes nessa proporção Rodrigo Pereira/ g1 Mortalidade chegou a ‘berçário’, diz pescador Segundo pescadores locais, essas “curvas de canal” são pontos procurados pelos peixes para reprodução , devido à possibilidade de se esconderem de ameaças nas partes abaixo dessa vegetação. “O que morreu lá é matriz [peixes reprodutores]. Porque isto é na verdade um berçário. Por aqui é até proibido pescar nesse trecho. Então, pescamos de um certo ponto para baixo. […] Acertou o coração [do rio]”, lamenta Antonio. Peixes mortos na ‘curva do canal’ do Tanquã, em São Pedro Rodrigo Pereira/ g1 ‘Cheiro de veneno na água’ Chegar aos trechos cobertos de peixes mortos é imediatamente acompanhado de um mau cheiro intenso e de um queimado sensação que chega fazendo seus olhos lacrimejarem “É cheiro de veneno na água, né? Chega lá e queima nossos olhos. Imagine então o peixe na água. Ele não pode sobreviver. Esse veneno tira todo o oxigênio da água”, lamenta o pescador José Verones, conhecido como Paraná, de 65 anos. Ele vive do rio há 30 anos, pescando e realizando roteiros turísticos. José Veronés, conhecido como Paraná, observa as águas da APA do Tanquã tomado por peixes mortos Rodrigo Pereira/ g1 ‘Já chega de queimar os olhos’ José seguiu a reportagem do roteiro e ficou evidente sua indignação ao comentar os danos ambientais “Nunca vi nada parecido na minha vida. E é uma grande tristeza hoje ver algo assim acontecendo aqui. Estou te dizendo: em 10 anos você não consegue recuperar aquela quantidade de peixes que morreram.” Em alguns pontos, os peixes mortos deixam rastros de cores mais claras nos locais onde foram arrastados pela água. “Tem uma camada de creme por cima da água. E o fedor que está… Arde os olhos”, lamenta o pescador Nivaldo Albino de Siqueira, 53 anos. Além disso, a cor escura chama a atenção. “Ontem a água preta parecia carvão”, relata Antonio. Escuro e ‘ água cremosa descrita por Nivaldo Rodrigo Pereira/ g1 Efeitos no ecossistema e no turismo E a morte de toneladas de peixes já afetou o ecossistema local, segundo pescadores “Nem as capivaras querem ficar na água. Está tudo no barranco”, diz Nivaldo. O impacto na fauna também afeta o turismo da região, pois um dos principais motivos desse tipo de atividade na região é a observação de pássaros e outras espécies. Imagens aéreas mostram milhares de peixes mortos no tanque após despejo irregular de usina São 94 espécies de aves aquáticas, das quais 16 realizam movimentos migratórios e oito estão ameaçadas, no estado de São Paulo “Levo pessoas para turismo, tiro fotos de pássaros e tudo mais. Tenho certeza que a maior parte das aves vai desaparecer daqui”, afirma José. As mortes de peixes começaram há cinco dias no local, segundo o pescador Rodrigo Pereira/g1. Ele estima que cerca de 20 espécies de peixes estejam entre os mortos no local . Entre eles estão o Piracanjuba e o Matrinxã, ameaçados de extinção. Entre os mamíferos e répteis ameaçados de extinção, a comunidade Tanquã tem registros de onça-parda, lobo-guará, jaguatirica e jacaré-de-focinho-amarelo. um impacto em dezenas de famílias que vivem do local de onde vem o rio “Calculo que sejam mais de 50 famílias. Mais de 50, só na minha região aqui”, calcula. “Meu sentimento hoje ao ver isso aqui é de muita tristeza. Não só para mim, mas para todos os pescadores que vivem da pesca. Eles têm a família para cuidar, os filhos para cuidar e hoje estão pensando em como vão sobreviver à pesca e não tem mais peixe”, lamenta o pescador. Antonio e Nivaldo observam as águas do Tanquã: apoio às famílias comprometido Rodrigo Pereira/ g1 Antonio diz que um ataque de diabetes e pneumonia o afastou da pesca recentemente e que os danos ambientais ao rio se seguiram. E diz ainda que o impacto não ocorre apenas na sua vida. peixes. Ela tem guias de pesca que ganham a vida levando gente pescando como nós. Isso afeta não só a gente. Afeta muita gente”, afirma.[O sustento] Toda a minha família é daqui. Minha esposa, minha filha […] Desta vez acabou conosco. Não tem mais peixe”, diz Nivaldo. VÍDEOS: Tudo sobre Piracicaba e a Região Veja mais notícias sobre a região na página do g1 Piracicaba.
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